"Depois de tantas buscas, encontros, desencontros, acho que a minha mais sincera intenção é me sentir confortável, o máximo que eu puder, estando na minha própria pele É me sentir confortável, mesmo acessando, vez ou outra, lugares da memória que eu adoraria inacessíveis, tristezas que não cicatrizaram, padrões que eu ainda não soube transformar, embora continue me empenhando para conseguir.” Ana Jácomo

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setembro 29, 2011

Dor é assim mesmo, arde, depois passa.



Dor é assim mesmo, arde, depois passa. Que bom. Aliás, a vida é assim: arde, depois passa.
Que pena, a gente acha que nao vai aguentar, mas aguenta : as dores da vida.
Agora está insuportável, agora você queria abrir o zíper, sair do corpo,
encarnar numa samambaia, virar um paralelepípedo ou qualquer coisa inanimada,
anestesiada, silenciosa. Mas agora ja passou.
Agora ja são dez segundos depois da frase passada.
Sua dor já é dez segundos menor do que duas linhas atrás.
Você acha que não, porque esperar uma dor passar
é como olhar um transatlântico no mar estando na praia.
Ele parece parado, mas aí você desvia o olhar,
lê uma revista, conversa com suas amigas,
toma um sorvete e quando vê o barco já está longe.
A sua dor agora, essa fogueira na sua barriga,
essa sensação de que pegaram sua traquéia e seu estômago
e torceram como uma toalha molhada, isso tudo
- é difícil de acreditar, eu sei
- vai virar só uma memória,
um pequeno ponto negro diluído num imenso mar de memórias.
Levanta dai, vai conversar com as suas amigas,
tomar um sorvete e quando você ver, passou.


(Caio Fernando Abreu)

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